domingo, 16 de setembro de 2012

Vila Nova Esperança

A parede é de madeirite, o teto é uma combinação de
telhas, tijolos, madeira e qualquer outra coisa que sirva
para proteger da chuva, o chão, o que, chão? É terra batida
mesmo. O barraco tem cinco metros quadrados, quatro filhos,
três camas, dois armários, um fogão e meio salário.
O calendário preso na porta, repleto de “X”, funciona como
contador regressivo, o destino é 7 de setembro, o feriado
da “independência” do Brasil é esperado com ansiedade
e expectativa por algumas famílias da comunidade “Vila
Nova Esperança”, uma ONG chamada “TETO”, vai demolir onze
barracos precários e substitui-los por casas nova. Dona
Odete não dorme há 3 dias, a ansiedade é grande, ela olha
para as estrelas por uma fresta do seu telhado, deitada na
cama, esperando o dia em que precisará sair de casa para
ver o céu.
Breno tem 6 anos de idade, usando uma toalha rasgada
presa nas costa ele corre pelas ruas de terra, ele é
incrivelmente magro e rápido. Dezenas de voluntários
do “TETO” sobem as escadas da comunidade, a movimentação
chama a atenção do menino que desvia a rota do seu “voo”,
ele é incrivelmente magro, rápido e curioso. “Oi amigos!
Quem são vocês? O que é isso na sua mão? Porque tá todo
mundo vestido igual? Vocês gostam de gelinho? Sabia que
eu tô treinando para ser super herói? Me leva na cacunda
amigo?” Um dos voluntários coloca o menino em cima dos
ombros, ele é incrivelmente magro, rápido, curioso,
simpático e agora alto. Breno sorri, seus dentes são
amarelados e cariados, ele ouve atento o voluntário Casé,
que explica para o menino que eles estão ali para construir
algumas casas na comunidade. “Nossa amigo! Que legal, eu
não sábia que vocês também eram super heróis!”, o menino
pede para descer do pescoço de Casé, abre os pequenos
braços e dá um abraço nele. Ele é incrivelmente magro,
rápido, curioso, simpático, baixinho e carinhoso, eu lhes
apresento o SUPER BRENO!
Dona Odete recebe os voluntários com bolo, bolacha,
salgadinho, refrigerante, café, beijos e abraços. O
trabalho pesado começa, as paredes da antiga “casa” vem
abaixo, o suor escorre, o primeiro prego é martelado,
simultaneamente a primeira lágrima caí. Dona Odete já
consegue visualizar sua nova casa, ainda não há paredes,
teto, porta, nem piso, mas na cabeça dela a imagem da nova
casa já é nítida.
Passam-se dois dias, a música ambiente é belíssima, o
som é uma mistura de marteladas, gritos de incentivo dos
moradores, mais marteladas, refrigerantes sendo abertos,
risos, risadas, sonhos e ainda mais marteladas. As onze
casas já estão quase prontas, o cansaço dos voluntários é
facilmente superado pelo prazer de ajudar aquelas pessoas
MARAVILHOSAS.
Rua principal da comunidade, a bola furada rola, com
dificuldade, mas rola, o maior clássico mundial de futebol
da história ocorre bem ali! “Com camisa x Sem Camisa”, o
placar aponta 3 a 1 para o time “sem camisa’, Wesley tem
11 anos, as pernas se movimentam de maneira imarcável, ele
puxa pra direita, passa pelo primeiro, dribla o segundo,
meti uma caneta no terceiro, desvia do esgoto, cruza, a
bola viaja na direção de Ronaldinho, expectativa toma conta
do lugar, não se ouve mais o barulho das marteladas, os
cachorros pararam de latir, o vendedor de gás desliga a
música do carro, Super Breno para de voar por um instante,
todos olham sem piscar, a bola chega, Ronaldinho bate...e
pega muito mal na bola, ISOLA!!!!! A bola cai em cima do
telhado de uma das novas casas da comunidade. “A primeira
bola no telhado!” Exclama um voluntário, um dos meninos que
estava no jogo corre e abraça a mãe chorando, “ a primeira
bola no NOSSO TELHADO mãe!”.
A construção acaba e não foram só as casas que os
voluntários deixaram ali, eles deixaram também esperança,
uma nova esperança, VILA NOVA ESPERANÇA!
Voluntário: Super Breno, você já sabe o que quer ser quando
crescer?
Super Breno: sei.
Voluntário: Você vai querer ser o que?
Super Breno: VOCÊ!

                                                                                                                Bruno Botas.

4 comentários:

  1. Não tenho nem palavras para dizer após ler esse incrível texto. Emoção e uma alegria juntas em pequenas palavras que descrevem uma maravilhosa experiencia!! SENSACIONAL!! Parabéns...

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  2. Eu fiquei lembrando aqui de cada passagem no texto descrita, e junto com as imagens vieram as lágrimas, incontrolável mistura de saudade,tristeza, alegria e esperança. Parabéns menino =)

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  3. Muito emocionante esse relato, fui lembrando das cenas e me emocionei. Parabéns Bruno :)

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  4. Classe altíssima! O mais gratificante é saber que não somente casas foram construídas mas a esperança foi turbinada nos corações da família que recebeu a casa, da turma envolvida no projeto e das pessoas que lerem esse texto

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